17/03/2013

SEPULTURA - Chaos A.D. (1994) [9/10]

Uma tempestade tropical.

"Beneath The Remains" e "Arise" tinham sido ambos excelentes álbuns de Thrash Metal, mas é aqui no "Chaos A.D." que o "boom" dos Sepultura se fez sentir e quando eles começaram o seu mais alto momento de fama até ao muito rentável "Roots".

Com o nome dos "Sepultura" a crescer ainda mais, há aqui também uma nova orientação musical. Muita da velocidade e técnica dos dois anteriores álbuns é perdida a partir daqui, o que faz com que muita gente prefira os anteriores trabalhos, principalmente aqueles fãs mais "old-school" por assim dizer. Por outro lado, com esta sonoridade mais "catchy" e "acessível", muitas portas foram abertas para novos fãs. Não se pode estar sempre a fazer a mesma coisa, há que inovar, e se há coisa que os Sepultura fizeram aqui foi inovar.

O tema "Refuse/Resist" tornou-se num verdadeiro clássico conhecido por todos, o inicio é inconfundivelmente "Sepultura". A arrancada com o riff principal da música é uma coisa tão básica e ao mesmo tempo tão bem criada que até custa querer como é que ninguém se tinha lembrado de ter feito aquilo primeiro. Este tipo de riffs simples e ritmicos viriam-se a tornar quase na imagem de marca do frontman Max Cavalera, assim como as suas simples e directas letras anarquistas e contra as políticas. Com a perda da velocidade, embora as guitarras tenham ficado bem mais simples e básicas (e graves também, com uma aparente descida de afinação), o baterista Igor Cavalera ganhou espaço para uma criatividade rítmica tremenda. A bateria é um dos factores que faz este álbum ser tão especial. 

"Territory", "Slave New World" e "Amen" continuam em perfeita sintonia com "Refuse/Resist": riffs simples, solos cheios de dinâmica de Andreas Kisser (outro importante factor neste novo som dos Sepultura), uma bateria fenomenal e uma voz de Max Cavalera em forma com refrões potentes e memoráveis que se tornariam famosos. Quem não conhece o cântico "Waaaaar for territoryyyyy" ou "Refuse! Resist!"? 

"Kaiowas" é um tema que sempre achei muito intrigante e sempre gostei desde a primeira vez que ouvi. Trata-se de uma sinistra "balada" negra e acústica. Uma percussão cheia de força aqui, assim como as cordas que soam a uma tempestade negra e tropical. É um tema que, segundo a própria banda, é inspirado numa tribo com o mesmo nome da música que vivia numa floresta. Esta tribo chamada Kaiowas, cometeu suicídio em massa em protesto ao governo que estava a tentar tirar as suas coisas e as seus crenças.

O tema seguinte denominado de "Propaganda" é uma excelente malha cheia de peso e possuidora de um groove muito forte e característico da banda. O que começa a ser intrigante aqui, é que os temas são todos muito simples e ao mesmo tempo soam-nos incrivelmente bem.

"Biotech Is Godzilla" é que já acho ter sido menos conseguido, 1:53 de muita porrada mas onde o trabalho de guitarras deixa-nos um pouco a desejar, os riffs soam-me feitos ao acaso e "toca a gravar" uns minutos depois de os fazer. A lenda do punk rock Jello Biafra colaborou aqui neste tema com a letra a pedido de Max, que já revelou ser grande fã dos Dead Kennedys (conhecida banda de Jello).

Um pouco mais à frente temos "The haunt", uma interessante cover dos New Model Army, banda essa que Igor Cavalera aprecia e consta que foi ele que "fez força" para que esta cover fosse gravada e incluída em "Chaos A.D.". Pelos vistos conseguiu o que quis. 

"Clenched Fist" termina o álbum com ainda mais marteladas de groove. Perto do fim do tema há uma espécie de breakdown, uma morte lenta de despedida.

Estes senhores tiveram então em "Chaos A.D." um dos álbuns mais importantes e dinâmicos, criaram literalmente uma nova era que influenciou muitas bandas. É quase certo que toda a gente que leu esta review já conhece o disco, caso isso não se aplique a ti, tenho três conselhos para ti que deves ter começado nesta viagem do Metal há pouco tempo: Ouve, respeita e devora este álbum, é difícil não simpatizar com ele.

Pontos altos: "Refuse/Resist", "Territory", "Slave New World", "Kaiowas", "Propaganda"
Pontos baixos: "Biotech is Godzilla"

PS: Uma curiosidade engraçada sobre a introdução... O som que ouvimos antes do primeiro tema "Refuse/Resist" é uma gravação do batimento cardíaco de Zyon Cavalera (filho de Max) quando ainda estava na barriga da mãe.


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